Por Reuters, reuters.com, Atualizado: 22/2/2011 8:45
Terremoto deixa pelo menos 65 mortos na Nova Zelândia
REUTERS
Por Gyles Beckford
WELLINGTON (Reuters) - Um terremoto de magnitude 6,3 matou pelo menos 65 pessoas nesta terça-feira em Christchurch, segunda maior cidade da Nova Zelândia, e muitas outras ainda estão soterradas sob escombros de edifícios.
Foi o segundo grande terremoto em cinco meses na cidade, que tem 400 mil habitantes, e é também o mais letal desastre natural no país em 80 anos.
'Nós bem podemos estar testemunhando o dia mais sombrio da Nova Zelândia... Até o momento, o número de mortos está em 65 e pode subir', disse o primeiro-ministro neozelandês, John Key, à TV local.
'É difícil descrever. O que era uma cidade vibrante algumas horas atrás agora está de joelhos', acrescentou Key, que viajou para Christchurch, sua cidade natal e onde tem parentes.
O tremor ocorreu na hora do almoço (fim da noite de segunda-feira no Brasil). Ruas e lojas estavam muito movimentadas, e os escritórios ainda estavam ocupados.
Ao anoitecer, e sob chuva, as equipes de resgate se concentravam em dois edifícios: um de quatro andares, com escritórios do setor financeiro, e outro onde funcionavam uma emissora de TV e uma escola de inglês. Uma autoridade do Japão disse que 12 alunos japoneses supostamente estão desaparecidos. Na emissora de TV, era possível ouvir gritos de sobreviventes soterrados.
Uma mulher resgatada disse que passou seis horas esperando socorro. 'Achei que o melhor lugar era sob a mesa, mas o teto desabou por cima, não posso me mexer e estou aterrorizada', havia dito por celular a funcionária de escritório Anne Voss a uma TV local.
O prefeito da cidade, Bob Parker, comparou a situação da cidade a uma zona de guerra. Inicialmente ele disse que cerca de 200 pessoas podiam estar presas nos escombros, mas depois revisou o número para 100.
Pelo menos 20 tremores secundários foram registrados. O hospital local recebeu muitos pacientes com membros esmagados, cortes e dores no peito, e os casos mais sérios podem ser transferidos para outras cidades.
Militares foram mobilizados para participar do resgate, segundo autoridades.
Christchurch é considerada um pedaço da Inglaterra no Hemisfério Sul. Tem uma famosa catedral, agora praticamente destruída, e um rio chamado Avon - como na Inglaterra. Tem muitos edifícios históricos, construídos em pedra, e também é freqüentada por estrangeiros que desejam aprender inglês e por turistas que a usam como trampolim para excursões pela Ilha Sul da Nova Zelândia.
(Reportagem adicional de Bruce Hextall, Michael Smith e Cecile Lefort em Sydney; Saika Takano em Tóquio)
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Chapeuzinho Vermelho - Millôr Fernandes
Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.).
Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde".
Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.
Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.
Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.).
Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde".
Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.
Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
04/02/2011
Impunidade pode ofuscar exemplo brasileiro
Da Agência Repórter Brasil
Em documento ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, relatora recomenda medidas para quebrar a impunidade que beneficia fazendeiros e empresas
A relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para as Formas Contemporâneas de Escravidão. Gulnara Shahinian, apresentou conclusões e recomendações ao Conselho de Direitos Humanos do organismo internacional referentes à missão realizada no Brasil de 17 a 28 de maio deste ano, nesta terça-feira (14), em Genebra, na Suíça.
No documento, a relatora confirma a avaliação de que o Brasil merece elogios por reconhecer a existência do problema e por colocar em prática políticas e iniciativas concretas de combate ao trabalho escravo contemporâneo. Atenta, porém, para o fato de que "ações exemplares correm o risco de serem ofuscadas se ações urgentes não forem tomadas para quebrar o ciclo de impunidade de que gozam proprietários de terra, empresas nacionais e internacionais, e intermediários (como os contratadores de mão-de-obra, conhecidos como "gatos") que se beneficiam do trabalho escravo".
O crescimento econômico brasileiro precisa levar em conta as suas consequências como um todo e não pode "custar" direitos, reiterou Gulnara. O relatório pede ainda a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/2001, que confisca a terra onde houver trabalho escravo, e o aumento da pena mínima para o crime de submeter alguém à condição análoga à escravidão (Art. 149 do Código Penal) de dois para cinco anos de reclusão.
A armênia Gulnara ainda aponta para a necessidade de que, a despeito do que vem sendo realizado em nível federal, ações locais de combate ao trabalho escravo precisam ser incrementadas.
Para erradicar o trabalho escravo, sinalizou Gulnara, é preciso enfrentar a pobreza. "Programas [sociais] abrangentes, focados e sustentáveis devem ser implementados para assegurar que a parcela mais vulnerável ao trabalho escravo usufrua de direitos humanos fundamentais como acesso à alimentação, água, saúde e educação e para assegurar a reinserção e integração das vítimas à vida econômica e às redes de proteção social".
Enquanto punições em âmbito civil têm sido aplicadas, penas de ordem criminal precisam ser reforçadas, continua a relatora especial da ONU. "Conflitos jurisdicionais [acerca da competência estadual ou federal] e atrasos no sistema judiciário causam frequentemente limitações, atrasos e permitem que acusados acabem se aproveitando da impunidade", coloca. O relatório defende a competência da Justiça Federal para julgar o crime de trabalho escravo - previsto em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2006, mas sob risco diante de outro julgamento em curso no mesmo tribunal.
Informações sobre número de processos, sentenças judiciais e punições relacionadas aos crimes relacionados ao trabalho escravo, assim como valores de multas impostas e efetivamente recebidas, devem ser disponibilizadas para o público em geral, assinalou Gulnara.
As recomendações incluem ainda: a incorporação de conquistas como lei, a exemplo da "lista suja" do trabalho escravo (que relaciona empregadores que cometeram esse crime) e a existência do grupo móvel de fiscalização (que verifica denúncias e liberta pessoas); o fortalecimento da proteção a defensores de direitos humanos; a importância do envolvimento de empresas no Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.
A relatora também destacou que o Brasil precisa assinar, ratificar e cumprir plenamente a Convenção Internacional sbre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de Suas Famílias. O governo brasileiro, emendou, precisa aplicar o Protocolo sobre o Tráfico de Pessoas - criminalizando todas as formas de tráfico (incluindo para fins de exploração econômica) em suas leis e todos os envolvidos no crime.
Foi reconhecido o papel da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de organizações da sociedade civil engajadas no Brasil. O governo nacional precisa, segundo a relatora, dividir o exemplo do sistema de combate ao trabalho escravo com outros países da America Latina.
A delegação brasileira no Conselho de Direitos Humanos da ONU classificou o relatório de "objetivo e balanceado", destacou casos citados de boas práticas, mas teceu algumas críticas. Disse, por exemplo, que a aprovação da PEC 438/2001 não é tarefa do governo, mas do Congresso.
Impunidade pode ofuscar exemplo brasileiro
Da Agência Repórter Brasil
Em documento ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, relatora recomenda medidas para quebrar a impunidade que beneficia fazendeiros e empresas
A relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para as Formas Contemporâneas de Escravidão. Gulnara Shahinian, apresentou conclusões e recomendações ao Conselho de Direitos Humanos do organismo internacional referentes à missão realizada no Brasil de 17 a 28 de maio deste ano, nesta terça-feira (14), em Genebra, na Suíça.
No documento, a relatora confirma a avaliação de que o Brasil merece elogios por reconhecer a existência do problema e por colocar em prática políticas e iniciativas concretas de combate ao trabalho escravo contemporâneo. Atenta, porém, para o fato de que "ações exemplares correm o risco de serem ofuscadas se ações urgentes não forem tomadas para quebrar o ciclo de impunidade de que gozam proprietários de terra, empresas nacionais e internacionais, e intermediários (como os contratadores de mão-de-obra, conhecidos como "gatos") que se beneficiam do trabalho escravo".
O crescimento econômico brasileiro precisa levar em conta as suas consequências como um todo e não pode "custar" direitos, reiterou Gulnara. O relatório pede ainda a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/2001, que confisca a terra onde houver trabalho escravo, e o aumento da pena mínima para o crime de submeter alguém à condição análoga à escravidão (Art. 149 do Código Penal) de dois para cinco anos de reclusão.
A armênia Gulnara ainda aponta para a necessidade de que, a despeito do que vem sendo realizado em nível federal, ações locais de combate ao trabalho escravo precisam ser incrementadas.
Para erradicar o trabalho escravo, sinalizou Gulnara, é preciso enfrentar a pobreza. "Programas [sociais] abrangentes, focados e sustentáveis devem ser implementados para assegurar que a parcela mais vulnerável ao trabalho escravo usufrua de direitos humanos fundamentais como acesso à alimentação, água, saúde e educação e para assegurar a reinserção e integração das vítimas à vida econômica e às redes de proteção social".
Enquanto punições em âmbito civil têm sido aplicadas, penas de ordem criminal precisam ser reforçadas, continua a relatora especial da ONU. "Conflitos jurisdicionais [acerca da competência estadual ou federal] e atrasos no sistema judiciário causam frequentemente limitações, atrasos e permitem que acusados acabem se aproveitando da impunidade", coloca. O relatório defende a competência da Justiça Federal para julgar o crime de trabalho escravo - previsto em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2006, mas sob risco diante de outro julgamento em curso no mesmo tribunal.
Informações sobre número de processos, sentenças judiciais e punições relacionadas aos crimes relacionados ao trabalho escravo, assim como valores de multas impostas e efetivamente recebidas, devem ser disponibilizadas para o público em geral, assinalou Gulnara.
As recomendações incluem ainda: a incorporação de conquistas como lei, a exemplo da "lista suja" do trabalho escravo (que relaciona empregadores que cometeram esse crime) e a existência do grupo móvel de fiscalização (que verifica denúncias e liberta pessoas); o fortalecimento da proteção a defensores de direitos humanos; a importância do envolvimento de empresas no Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.
A relatora também destacou que o Brasil precisa assinar, ratificar e cumprir plenamente a Convenção Internacional sbre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de Suas Famílias. O governo brasileiro, emendou, precisa aplicar o Protocolo sobre o Tráfico de Pessoas - criminalizando todas as formas de tráfico (incluindo para fins de exploração econômica) em suas leis e todos os envolvidos no crime.
Foi reconhecido o papel da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de organizações da sociedade civil engajadas no Brasil. O governo nacional precisa, segundo a relatora, dividir o exemplo do sistema de combate ao trabalho escravo com outros países da America Latina.
A delegação brasileira no Conselho de Direitos Humanos da ONU classificou o relatório de "objetivo e balanceado", destacou casos citados de boas práticas, mas teceu algumas críticas. Disse, por exemplo, que a aprovação da PEC 438/2001 não é tarefa do governo, mas do Congresso.
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